Em plena era digital, as novas tecnologias no ensino de línguas avançam a passos largos. Se há não muito tempo a relação entre alunos e professores era mediada por um quadro negro, alguns slides e recursos de áudio na sala de aula e pouca comunicação fora dela, essa realidade mudou. Adriana Ramos, professora da Pós-Graduação em Ensino de Língua Espanhola da Universidade Estácio de Sá, explica na entrevista abaixo alguns dos pontos que os docentes devem levar em consideração ao tentar acompanhar essa transformação  e aproveitar a evolução tecnológica em benefício dos alunos. Confira!

O que o professor deve ter em mente para usar as novas tecnologias de maneira produtiva em sala de aula? E como ele pode aproveitá-las para seu próprio desenvolvimento profissional?

Adriana Ramos – Antes de tudo, o professor deve ser consciente de que as novas tecnologias, por si só, não fazem nada! Elas sozinhas não trazem muitas vantagens, o uso delas de maneira indiscriminada também não. O professor precisa ser coerente com a sua prática pedagógica e levar para a sala de aula somente o que facilite o processo de aprendizagem, não algo que implique mais um esforço ou dificuldade do aluno em usar essa ou aquela ferramenta.

Quais são as possibilidades que o professor tem hoje para o ensino de língua estrangeira que não tinha há cinco anos? Como não ficar desatualizado?

Adriana Ramos – Da mesma forma que um garçom que antes anotava os pedidos em um bloco de papel precisou se atualizar e aprender a usar um tablet ou computador no ambiente de trabalho, os professores também precisam estar constantemente estudando e se atualizando. No caso do professor de línguas, ainda mais, porque o seu “objeto” de trabalho é algo vivo e que está em constante mudança. O professor deve se aperfeiçoar não só na matéria que leciona, mas também no que diz respeito às novas tecnologias que facilitem o seu trabalho e uma maior compreensão e aprendizagem dos alunos. O professor que domina novas ferramentas de ensino consegue expandir e ampliar o espaço da aula para além das paredes da sala.

Quando falamos de ensino de línguas, falamos de culturas diferentes. Quanto a internet tem facilitado transportar os alunos para o universo do idioma de estudo?

Adriana Ramos – Atualmente, a internet facilita não só o estudo de uma língua estrangeira, mas de qualquer tema em geral. Ela permite que a globalização se expanda e conecte indivíduos de todas as partes do mundo. É possível compartilhar conhecimentos e aprender sobre culturas diferentes pela rede, sem precisar ir ao local em que aquela língua ou cultura está inserida.

Pode nos contar um pouco sobre o que são as TRIC (Tecnologias de Relação, Informação e Comunicação) e como foi sua evolução?

Adriana Ramos – Quando se fala em novas tecnologias, a maioria das pessoas pensa em computadores, internet, wi-fi, etc. Mas a verdade é que as novas tecnologias existem desde a época dos homens das cavernas! Quando eles começaram a pintar o interior das cavernas, aquilo era uma nova tecnologia para a época. A invenção do papel, da imprenta, do livro, e assim sucessivamente até a chegada dos computadores e da internet propriamente dita, tudo isso é evolução das tecnologias de relação, informação e comunicação.

O avanço tecnológico tem mudado a maneira como as pessoas se relacionam, em diferentes esferas. Nesse contexto, como mudou a relação professor-aluno?

Adriana Ramos – Podemos dizer que há vantagens e desvantagens para a relação professor-aluno com o atual avanço tecnológico. As vantagens estão relacionadas com o fato de que ambos estão conectados e podem ampliar o tempo de contato e ensino-aprendizagem fora da sala de aula. O professor consegue acompanhar o aluno pela rede e como se dá a sua evolução dentro da disciplina que leciona. Além disso, ele tem um conhecimento maior da “identidade digital” do aluno e de como ele se movimenta nesse meio. Para o aluno também é vantajoso, porque ele pode estabelecer um contato mais frequente com o professor, receber explicações, materiais ou sanar dúvidas. As desvantagens, por parte do professor, podem ser a falta de planejamento e de bom uso das ferramentas multimídia para aperfeiçoar a sua prática; por parte do aluno, o descaso ou a perda de foco em fazer parte de uma comunidade de aprendizagem.

Quem são os nativos digitais?

Adriana Ramos – O termo nativo digital foi utilizado pela primeira vez em 2001 por Marc Prensky, escritor e palestrante americano da área de Educação. A expressão foi criada no início do século XXI para definir aqueles que cresceram em uma cultura digital e que, por isso, teriam habilidades diferenciadas, como processar múltiplas vias de informação e usar intuitivamente as ferramentas tecnológicas. No entanto, estudos recentes (do próprio Marc Prensky, inclusive) discutem muito o conceito de “nativo digital” e mostram que é um mito considerá-los portadores de habilidades tecnológicas intrínsecas, só por terem nascido na era digital. Ou seja, com a evolução das novas tecnologias, os nativos digitais não são representados apenas por aqueles que nasceram na era da internet, eles também devem estar profundamente imersos nesse mundo, atentos às questões positivas e negativas da relação com a tecnologia, independentemente da idade.

Com o fluxo crescente de informações na internet, como orientar os alunos a filtrar aquelas que são pertinentes e a saber interpretá-las?

Adriana Ramos – Como a internet é uma rede, há ferramentas disponíveis para que o professor ajude o seu aluno a navegar sem se perder. A ideia é que o professor funcione como um guia para que os alunos possam navegar com segurança sem perder o foco.

 

Sobre a professora

Adriana Ramos: Doutora em Língua Espanhola e Linguística Aplicada (UNED, 2002), magíster em Alta Especialización en Filología Hispánica (CSIC, 2002), mestre em Letras Neolatinas (UFRJ, 2000), especialista em Língua e Literaturas em Espanhol pela Agencia Española de Cooperación Internacional (1997). Professora do Ensino Básico Técnico e Tecnológico e chefe do Departamento de Línguas Estrangeiras Aplicadas do Ensino Superior do CEFET/RJ. Professora de Novas Tecnologias no Ensino de Língua Espanhola na Pós Estácio.

 

Tem interesse em ampliar sua formação em Novas Tecnologias no Ensino de Língua Espanhola? Saiba mais aqui sobre o curso de extensão oferecido pela Pós Estácio.