Os profesores que nunca esqueceremos

Todos nós temos um ou mais professores que foram muito importantes em nossas vidas. Alguns foram um exemplo para nós. Outros, um estímulo ou nos fizeram amar a matéria que nos ensinaram. E durante a adolescência, alguns de nós até nos apaixonamos pela nossa professora ou professor.

Você se lembra do seu primeiro professor ou professora? É engraçado como esquecemos tantas coisas da nossa infância, mas muitos de nós ainda lembramos perfeitamente de quem nos ensinou na nossa primeira escola. Seja uma boa lembrança ou uma ruim.

Meu primeiro professor foi Seu Emilio. Eu era o caçula do colégio, porque minha mãe cometeu o erro de me ensinar a ler antes de eu entrar na escola e não podia estar na mesma sala que os que estavam começando a aprender as vogais. Muitas vezes Seu Emílio me sentava numa das suas pernas para ler em voz alta uma página do Dom Quixote e me colocava como exemplo para os outros alunos. Lembro-me do carinho com que me tratava e das brigas com meus colegas em todos os recreios. Naquela escola, o que eu mais aprendi foi brigar. Mas o destino é curioso. Anos depois acabaria traduzindo precisamente Dom Quixote para a editora brasileira Record com o erudito Carlos Nougué. No lançamento, na Biblioteca Nacional, me lembrei muito do Seu Emílio e da minha mãe.

Depois, há o professor que nos faz gostar de sua matéria. Na infância e adolescência sempre tinha aquela disciplina de que não gostávamos ou que dizíamos que não éramos bons nisso. Mas no ano seguinte o professor mudava e, de repente, estávamos ansiosos por receber aquela aula. Aconteceu comigo com a matemática. Eu tinha certeza de que não gostava de matemática até que tive um professor que me fez gostar de resolver problemas e fazer equações. O assunto era o mesmo, o que mudava era a forma como ele o transmitia. Se você ama o que ensina, seus alunos também acabarão amando. O amor é contagioso.

E por falar em amor, às vezes acontece que na adolescência, quando os hormônios nos dominam, acabamos nos apaixonando por um professor ou professora porque é uma pessoa carismática, dedicada, interessante ou porque nos disse no momento certo exatamente o que estávamos precisando. Porque muitos professores não dão só a sua aula e mais nada, muitos olham para seus alunos e os veem. Eles percebem se estão se sentindo mal, se sofrem, se estão sofrendo bullying ou precisam de consolo. E alguns alunos às vezes contam para os professores coisas mais íntimas do que para seus pais ou amigos, buscando justamente o conselho ou compreensão que acham que só vão encontrar naquele docente.

Eu me apaixonei pela minha professora de francês quando eu tinha quinze anos. E não era só porque ela era atraente. Certamente também influenciou o fato de ela me tratar como se eu fosse capaz de entender suas coisas. Muitos adultos tendem a tratar os adolescentes como crianças que vivem em outro mundo no qual é impossível entrar para deixar algo que lhes interesse. Ela me ouvia mais do que ninguém e conversávamos por horas. Duvido que ela lembre de mim, mas eu não a esqueci.

Na universidade, como estudante, tive professores com quem desenvolvi uma certa amizade e, como professor, também tenho alunos que ainda são meus amigos anos depois de passarem pelas minhas aulas. Parece ser diferente, porque agora somos todos adultos. Mas realmente não é tão diferente. O papel entre professor e aluno no fundo é sempre o mesmo.

Eu tenho um amigo sábio. Ele é um Lama tibetano. Seu nome é Tritul Rimpoché e uma vez lhe pedi um conselho: “Tenho que escolher entre ser professor, escritor, músico ou ator. Tenho que me dedicar a apenas uma dessas profissões, 100%, para dar o meu melhor, mas não sei qual escolher, porque não tem uma de que eu goste mais do que outra”. Ele respondeu: “São todas a mesma coisa. O objetivo de todas elas é o mesmo: transmitir. Sua profissão é transmitir”. E ele estava certo. Os professores são como músicos, como atores. Estamos no nosso palco. Temos nosso público, nos observando, esperando nossa atuação, o que decidirmos transmitir. Os nossos alunos são esponjas que se embebem do que decidimos oferecer, do nosso desempenho, da nossa música. Queremos transmitir algo e começamos captando a atenção do nosso público. Nossa melodia entra em quem nos ouve e provoca algumas sensações. Alguns sentirão algo especial que ficará neles e outros a esquecerão imediatamente.

Mas, seja como for, com todos nós professores, eles terão aprendido alguma coisa, porque teremos transmitido conhecimento, informação, nosso jeito de ser, educação, carinho, respeito, compreensão, princípios e o que mais quisermos que eles levem da nossa aula. E, provavelmente, para alguns deles também seremos aquele professor ou professora que nunca esquecerão, porque todos temos um professor que nunca esqueceremos.

José Luis Sánchez é professor e coordenador dos cursos de Pós-graduação em Tradução e em Ensino das línguas inglesa e espanhola da Universidade Estácio.
coordenador@cultestacio.com.br

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